
A Canção de Mahamudra de Tilopa é um dos mais belos clássicos sobre o Tantra. Foi transmitida pelo mestre Tilopa ao sábio e siddha de Kashimir, Naropa!
Você pode ouví-la no YouTube clicando no vídeo abaixo ou lê-la aqui no blog!
Mahamudra está para além de palavras e símbolos, mas
para ti, Naropa, sério e leal, isto deve ser dito:
O vácuo não precisa de confiança, Mahamudra repousa
sobre o nada.
Sem fazer esforço, mas permanecendo desprendido e
natural, é possível quebrar o jugo, ganhando, assim, a
libertação.
Se alguém nada vê quando contempla o espaço, se alguém
com a mente observa a mente, esse alguém destrói distinções
e alcança o estado de Buda.
As nuvens que vagueiam pelo céu não têm raízes nem lar,
também assim são os pensamentos distintivos vagando
através da mente.
Desde que a mente-eu é vista, cessa a discriminação.
Formas e cores formam-se no espaço, mas o espaço não é
tingido nem pelo branco nem pelo preto.
Da mente-eu todas as cores emergem, e a mente não é
manchada nem por virtude nem por vícios.
As trevas dos tempos não podem amortalhar o sol fulgente;
os longos kalpas do samsara jamais podem esconder a luz
brilhante da Mente.
Embora palavras sejam ditas para explicar o Vácuo, o
Vácuo tal como é nunca pode ser explicado.
Embora digamos que a Mente seja uma luz brilhante, ela
está para além de todas as palavras e símbolos.
Embora a Mente seja vazia em sua essência, contém e
abarca todas as coisas.
Nada faças com o corpo, mas relaxa; fecha com firmeza a
boca e permaneça silente; esvazia a mente e nada penses.
Como um bambu oco, repousa bem teu corpo.
Sem dar nem tomar, repousa tua mente.
Mahamudra é como a mente que a nada se prende.
Assim praticando alcançarás, em tempo, o estado de Buda.
A prática do mantra e da paramita, a instrução em sutras e
preceitos, o ensino das escolas e das escrituras não levarão à
percepção da verdade Inata.
Porque, se a mente, quando tomada por algum desejo,
procura encontrar algum objetivo, apenas oculta a luz.
Aquele que observa os preceitos tântricos, ainda discrimina,
trai o espírito de samaya.
Cessa toda atividade, abandona todos os desejos, deixa que
os pensamentos subam e desçam, coisas que eles farão,
como ondas no oceano.
Aquele que nunca prejudica o não-perdurável, nem o
princípio da não-distinção, defende os preceitos tântricos.
O que abandona o desejo insaciável e não se prende a isto
nem àquilo, percebe o significado real dado nas escrituras.
Em Mahamudra todos os pecados são consumidos; em
Mahamudra está a libertação dos cárceres do mundo.
Esse é o supremo archote do Dharma.
Os que não crêem nisso são insensatos, para sempre
chafurdados em sofrimento e tristeza.
Se alguém quer lutar pela libertação, precisa confiar num
Guru.
Quando a tua mente recebe a benção dele, a emancipação
está próxima.
Ai! Todas as coisas deste mundo são sem sentido, não
passam de sementes da dor.
Ensinamentos pequenos levam a ações, só se deve seguir os
grandes ensinamentos.
Transcender a dualidade é visão soberana.
Dominar abstrações é prática régia.
A trilha da não-prática é o caminho de todos os Budas.
Quem pisa essa trilha alcança o estado de Buda.
Transitório é este mundo; como fantasmas e sonhos ele não
tem nenhuma substância.
Renuncia a ele, abandona teus parentes, corta os laços da
luxúria e do ódio, e medita em bosques e montanhas.
Sê, sem esforço, permaneça desprendidamente em estado
natural, e logo Mahamudra conseguirás e obterás a não-
obtenção.
Corta a raiz da árvore e as folhas murcharão; corta a raiz
da tua mente e samsara tomba.
A luz de qualquer lâmpada dissipa, num momento, as trevas
de longos kalpas; a luz forte da mente, num simples lampejo,
queimará o véu da ignorância.
Quem quer que se agarre à mente não vê a verdade que está
além da mente.
Quem quer que lute para praticar o Dharma não encontra a
verdade que está além da mente e da prática.
A fim de saber o que há além da mente e da prática, é
preciso cortar completamente a raiz da mente, e ficar
despido.
Assim, deves afastar-te de todas as distinções e permanecer
tranqüilo.
Não devemos dar nem receber, mas permanecer natural,
porque Mahamudra está para além de toda aceitação, ou
rejeição.
Já que alaya não é nascida, ninguém pode obstruí-la nem
manchá-la; conservando-se na região não-nascida toda
aparência se dissolverá em Dharmata, e o egoísmo e o
orgulho se desvanecerão em nada.
A suprema compreensão transcende tudo isto e tudo aquilo.
A suprema ação contém grande produtividade sem apego.
A suprema realização é compreender a imanência sem
desejo.
De início, o iogue sente que sua mente se está despencando
como uma cascata; a meio curso, como o Ganges, ela flui
lenta e suavemente; ao fim, é um grande, um vasto oceano,
onde as luzes da mãe e do filho se fundem numa só.
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